A partir de hoje, 02 de março, celebraremos a quarta-feira de cinzas, que dará início na Quaresma de 2022. São 40 dias pelos quais os cristãos fazem sua preparação à Páscoa, principal festa do Cristianismo.
Os primeiros registros de que os cristãos faziam uma preparação pré-pascal remonta ao início do século IV no Oriente e ao fim do mesmo século no Ocidente. No entanto, desde o século II os cristãos jejuavam para esperar a Páscoa. A opção pelos 40 dias tem estreita ligação com o simbolismo bíblico.
Biblicamente o número 40 refere-se ao tempo da espera, da preparação, da penitência, do jejum e até do castigo. Recorda-se os 40 dias que choveu durante o dilúvio (Gn 7,4). Moisés esperou 40 dias para receber as tábuas da Lei no Monte Sinai.
Os israelitas peregrinaram quarenta anos no deserto em preparação à entrada na Terra Prometida (Ex 16,35). A cidade de Nínive fez penitência durante 40 dias para escapar do castigo divino. Elias viajou durante quarenta dias até chegar ao Monte Horeb onde Deus se manifestou na brisa (1 Rs 19,8).
Jesus jejuou 40 dias no deserto preparando-se para sua vida pública (Mt 4,3; Mc 1,13; Lc 4,2). Após sua ressurreição, Ele apareceu durante 40 dias aos discípulos (At 1,3). Quarenta é, portanto, um número redondo e provisório que indica um tempo de preparação para algo que virá.
A Quaresma não pode ser vivida como um tempo de sacrifícios e sofrimentos desconexos da vitória de Cristo na Páscoa. Na verdade, participamos dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória.
Neste tempo a Igreja propõe exercícios que evidenciam o caráter da conversão, da mudança de vida. Na Quarta-feira de Cinzas escuta-se o Evangelho de Mateus (Mt 6,1-8.16-18) onde Jesus faz referência à esmola, à oração e ao jejum. São posturas que visam novas relações do ser humano consigo mesmo, com os outros, com a criação e com Deus.
A Quaresma nos ensina o caminho da purificação e da iluminação. Nela acolhemos as palavras de Jesus: “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Não é uma simples mudança de vida, mas é a acolhida do amor de Deus, que reconcilia o mundo consigo. É tempo de reconhecer a infidelidade, a falta de conversão, arrependimento, de acolhida e do perdão que sai do coração do Pai. O período Quaresmal leva-nos a uma atitude de acolhida do amor misericordioso que vem de Deus e nos interpela para amar os irmãos e irmãs com solidariedade e compaixão. É tempo de viver a compaixão com Cristo e com os irmãos.
Neste tempo de busca de sentido e carência de ética, a Quaresma faz um apelo a cada cristão para começar dentro de si as mudanças que deseja para ao seu redor. Toda conversão depende de uma postura de arrependimento e a decisão de uma nova posição em relação à vida.
Essa postura nova depende do quanto cada pessoa é capaz de confrontar seu estilo de vida com a proposta do Evangelho de Jesus. Para iniciar a quaresma a Igreja coloca cinzas, sinal de penitência e arrependimento, proferindo a frase de Jesus: Convertei-vos e crede no Evangelho. É tempo de renovar a fé, mudar de vida e encontrar a felicidade que somente o Deus Vivo pode oferecer.
FONTE: CNBB