Por vezes me deparo com a pergunta, “Qual a importância dos livros, de um livro?”, do motivo de falar tanto em livros e agora, recentemente abrir uma livraria como um novo negócio, num país que lê tão pouco? Primeiro, os brasileiros leem cerca de 600 milhões de livros ao ano, numa média de 2,5 ou alguns colocam 3 livros ao ano por pessoa, pode ser pouco se compararmos com outros países, mas ainda assim é bastante em números.
Gostaria de tentar explicar a importância dos livros com uma notícia que pode ter passado despercebida de muitos, e se passa no inferno atual que é a guerra que está devastando a Ucrânia. Onde muitos não têm acesso à comida ou água, e mortes acontecem a todo instante. Uma notícia que dá conta da cidade de Lviv, da tentativa de retirarem livros das livrarias e bibliotecas da cidade, tamanha a importância que se dá a eles. Uma parte conseguiu ser enviada para fora da cidade, para um lugar seguro, mas outro tanto não teve essa oportunidade e diversas pessoas trataram de salvar os livros, principalmente infantis, alojando eles em porões e subsolos, na tentativa de preservá-los.
Alguns desses locais seguros abrigaram pessoas também, e outras famílias que permaneceram por lá, diariamente visitam esses locais em busca de livros para contarem histórias para seus filhos e para passarem o tempo, a espera de dias melhores. São pessoas lendo e contando histórias de fadas, princesa e príncipes para suas crianças em meio a sirenes e bombardeios e barulhos de artilharia. Por que será que se arriscar em guardar esses livros é importante? Por que será que se arriscar a ir busca-los para contar a seus pequenos filhos é importante?
Livros clássicos e livros recém-lançados estão entre esses livros, como Polinka, onde está à história de um avô e uma menina, que foi publicada pouco antes da invasão e escrita por um homem que está agora na linha de frente, segundo a livreira, ele queria deixar algo para sua neta, contando que talvez não voltasse vivo para sua família. Esse é o destino da grande maioria dos autores ucranianos, a linha de frente de combate.
Tentando viver, quando as sirenes de alerta de ataques aéreos se silenciam, as pessoas voltam ao que tentam fazer de uma vida normal em Lviv, os cafés voltam a funcionar e as pessoas vão às livrarias que restaram comprar livros como um gênero de primeira necessidade. Algumas pessoas vendem livros usados, em barracas nas praças, outras procuram vender em túneis sob as rodovias onde é mais seguro, mas os livros estão presentes no cotidiano.
Uma vendedora de livros que ficou mais de dois meses “presa” em casa relatou que quando retomou as suas vendas em abril, muitos dos seus antigos fregueses foram em busca de livros para seus filhos, com a dor no coração de não poder comprar pela falta de dinheiro, e ela deu vários de seu acervo com o maior gosto do mundo, sabendo que as crianças querem ler, e esquecer a guerra que nem sabem o motivo. Pensando nessa notícia é que eu que pergunto, o que move essas pessoas em meio a uma guerra desigual, a tomarem todo esse cuidado em manter os livros perto das pessoas, em deixar disponível aos pais e as crianças livros. Só posso entender que os livros não servem para comer ou beber, mas na Ucrânia, assim como em outros países os livros são gêneros de primeira necessidade. Quem sabe um dia ainda vejo essa necessidade por livros aqui no nosso país