Apesar da comemoração um tanto discreta, não passou despercebido o centenário do falecimento do escritor brasileiro Lima Barreto. O lançamento de um filme, um livro e um podcast durante o mês da Consciência Negra, em novembro de 2022, lembraram a sua obra que continua bem atual, apesar de ter sido escrita a um século.
Os críticos apontam Lima Barreto como um autor que soube como poucos interpretar a loucura, o racismo e também a política brasileira de tal forma que o que produziu continua atualíssimo. Talvez por ter sofrido na própria pele tudo o que veio a passar em seus escritos, pois sendo negro, sofreu o racismo da época, pela vida pobre que teve e por ter que assumir o sustento dos irmãos com pouca idade, acabou um alcóolatra e por conta disso foi internado diversas vezes, e sofreu os tratamentos existentes na época e pôde contar sobre isso. Também era um afiado crítico dos desmandos políticos da época, e tudo isso facilmente refletiu em sua obra.
Quando Lima Barreto descreve a corrupção, a desigualdade e as ambiguidades do Brasil em sua obra, é o que ele vivenciou diretamente na Primeira República, mas é inegável a semelhança da nossa República atual. Descreveu como poucos os subúrbios do Rio de Janeiro, os locais que frequentava, o que deixou documentos marcantes da vida que era esquecida pelos escritores da época.
O filme “Lima Barreto, ao terceiro dia”, da Globo Filmes, retrata um dos períodos no qual ele ficou internado no hospício devido ao alcoolismo, e no longa ele passa a alucinar com os personagens de seu romance mais famoso, “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, e a relembrar sua juventude. Lima Barreto antecipou muitas discussões que apenas mais tarde vieram a ser a cena, como a influência da raça e da classe na saúde mental e no tratamento pelas instituições públicas, isso tudo foi tratado no podcast “Lima Barreto, o negro é a cor mais cortante”, criada pelo Instituto Moreira Salles. Já a historiadora Lilia Schwarcz, lançou o livro “Triste República”, junto com cartunista Spacca, pela editora Companhia das Letras, em forma de HQ que conta a história da Primeira República brasileira (que durou de 1889 a 1930) pelos olhos críticos de Lima Barreto.
O livro demonstra e ressalta os problemas e as preocupações da época, que se parecem muito aos de hoje, desde a pandemia de gripe espanhola que acometeu o mundo e o Brasil entre 1918 e 1920, até as observações de Lima sobre o que hoje chamamos de “racismo estrutural”, que são os reflexos mais sutis da discriminação racial na nossa sociedade.
Fonte: Hugo Lopes – Associação Amantes da Leitura