O feriado desta quinta-feira (21) marca a morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, símbolo da Inconfidência Mineira.
Ele foi enforcado em 1792 e, depois, esquartejado, por traição à coroa. O movimento do qual fez parte era anticolonialista, queria a instalação da República.
Os conspiradores mineiros planejavam o fim da dominação portuguesa sobre o Brasil. Para além do mártir, Tiradentes foi um homem tagarela, namorador, teimoso, corajoso, apaixonado por livros e defensor do conhecimento.
“Tem gente que quer que Tiradentes seja um ‘santo’, mas ele foi um homem, com paixões, defeitos e qualidades”, diz o professor do departamento de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Villalta, que pesquisa o tema há quatro décadas.
A República só foi proclamada no Brasil em 1889.
Por que é feriado?
Tiradentes morreu como traidor do Brasil, mas anos depois foi considerado herói. O dia da morte, 21 de abril, é feriado em todo o país. Ele foi declarado patrono cívico da nação brasileira no dia 9 de dezembro de 1965, com a publicação da Lei de nº 4.897, no governo de Castello Branco.
O texto diz que a homenagem a ele pretende destacar que a condenação de Joaquim José da Silva Xavier não deve manchar a memória dele, que é “reconhecida e proclamada oficialmente pelos seus concidadãos, como o mais alto título de glorificação do nosso maior compatriota de todos os tempos”.
Quem foi Tiradentes?
Após ficar três anos preso no Rio de Janeiro, Tiradentes foi enforcado em 1792. Esquartejado, ele teve as partes do corpo expostas em diferentes locais públicos de Vila Rica, atual Ouro Preto, para “servir de exemplo”.
Em um destes pontos, há hoje uma estátua e uma placa onde se lê “aqui em poste de ignominia esteve exposta sua cabeça”. A rota do inconfidente pela cidade foi relembrada pelo g1 em 2018, quando o jornalista Lucas Figueiredo publicou a biografia moderna “O Tiradentes”.
Várias profissões
Tanto para Villalta quanto para Figueiredo, o que há de interessante em Tiradentes ultrapassa a traição à Coroa. Entre as profissões exercidas por ele estão a de dentista (“tira-dentes”), minerador, comerciante e, claro, alferes. “Um bom militar, diga-se de passagem”, afirma Villalta.
O apreço pela leitura e pelo conhecimento técnico também tem destaque na personalidade de Tiradentes. Lendo obras estrangeiras e nacionais, montava suas próprias estratégias de intervenção. Ele circulava bem por diferentes grupos sociais e tinha uma alma inquieta.
Na vida afetiva, teve um relacionamento com Antônia do Espírito Santo, 25 anos mais nova do que ele. Os dois moraram juntos, mas não chegaram a se casar. “Há registros de que, com ela, teve uma filha. Mas não é improvável que tenha deixado outros descendentes. Ele viajava demais. Era obcecado pela conspiração. Ao que tudo indica, a amante se cansou dele e o traiu”, relata Luiz Villalta.
“Ele era alguém que queria muito vencer na vida, que acreditava que o esforço seria recompensado. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa muito teimosa e inocente. Às vezes, confuso; sempre generoso e com uma coragem infinita”, descreve Figueiredo.
“Era fanfarrão? Falava demais? Sim! Mas sua participação como tal era essencial para o sucesso do movimento. Ele era o agente que poderia incendiar o povo”, completa Villalta.
Medalha da Inconfidência
A entrega da Medalha da Inconfidência, maior honraria concedida pelo governo de Minas Gerais, teve que ser suspensa em 2020 e em 2021, por conta da pandemia de coronavírus. A tradicional cerimônia será retomada nesta quinta-feira (21), homenageando políticos, militares, médicos e desembargadores.
As honrarias são dividas em quatro graus: Medalha da Inconfidência, Medalha de Honra, Grande Medalha e Grande Colar. Os 171 homenageados incluem aqueles que foram agraciados em 2020, quando o evento foi cancelado, e os indicados neste ano. Em 2021 não houve indicações.
A honraria máxima, o Grande Colar, será concedido neste ano ao senador mineiro Rodrigo Pacheco (PSD), Presidente do Congresso Nacional.
FONTE: GLOBO.COM