Em 2018, a cantora Barbra Streisand contou à revista americana “Variety” que suas duas cachorrinhas, Miss Violet e Miss Scarlett, eram clones de Samantha, sua coton de tulear que morreu em 2017 com 14 anos. As duas fazem companhia à Fanny, prima canina distante de Samantha.
Na entrevista, ela contou que foram retiradas células da boca e do estômago da cachorrinha falecida. “Elas têm personalidades diferentes de Samantha”, disse a artista na época. “Estou esperando elas ficarem mais velhas e então vou poder ver se ficam com os olhos castanhos e sua seriedade.”
A estilista Diane von Furstenberg e seu marido, o bilionário Barry Diller, também optaram pelo clone de seu jack russel terrier Shannon, em 2016. Na época, especulou-se que o casal havia desembolsado US$100 mil (cerca de R$ 467 mil) para ter Evita e Deena, clones feitos por uma empresa coreana.
Já o produtor e apresentador Simon Cowell declarou as intenções de ver “cópias” de seus três yorksire terriers, Squiddly, Diddly e Freddy, por não suportar viver sem a companhia do trio, de acordo com uma entrevista ao “The Sun”, em 2018.
Assim como os famosos, cada vez mais pessoas estão em busca de clonar seus animais de estimação. É o que declarou Melania Rodriguez, gerente de atendimento ao cliente da ViaGen Pets and Equine, empresa norte-americana, aberta desde 2015, especializada em clonagem de cachorros, gatos, cavalos e até furões.
Apesar da popularização do assunto, o custo é ainda alto. A empresa cobra US$50 mil (cerca de R$ 233 mil) para clonar um cachorro, US$30 mil (R$ 140 mil) para clonar um gato e US$85 mil (R$ 397 mil) para um cavalo.
No Brasil, as regulamentações sobre a prática não abordam todas as possibilidades. Há empresas que oferecem o serviço de congelamento do material celular do pet, mas sem comercializar o processo de clonagem.
Em 2001, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, apresentou a bezerra Vitória, primeiro clone da América Latina. Ela morreu em 2011, pela idade avançada.
Em janeiro, foi aprovado, pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, um projeto de lei que busca regulamentar a pesquisa, a produção e a comercialização de animais domésticos clonados, considerados de interesse zootécnico, como bovinos, búfalos, cavalos, ovelhas, porcos e aves. Não estão incluídos os cachorros e gatos.
O projeto deve ainda passar pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Como é feito
Existe uma série de técnicas de clonagem, mas, normalmente, o núcleo da célula do animal a ser clonado é retirado e injetado em um óvulo doado, que teve seu material genético retirado anteriormente.
Esse óvulo é então estimulado a crescer até se desenvolver em um embrião. Em seguida, é implantado em uma espécie de barriga de aluguel canina, ou felina, ou de acordo com o animal a ser clonado. Esta “mãe” dará a luz aos filhotes.
Caso o cliente não deseje fazer a clonagem imediatamente, é possível conservar o material genético do bichinho quase indefinidamente, com o uso da criopreservação, técnica de congelamento em temperaturas que chegam a -196°C.
O outro lado
Uma das questões éticas que envolve a clonagem dos pets é que não há benefícios médicos para o animal de estimação ou para seu tutor, segundo Robert Klitzman, diretor acadêmico do programa de mestrado em bioética na Universidade de Columbia.
Ele diz que a taxa de sucesso dos processos de clonagem é de apenas 20% e que envolve riscos ao animal que passa por uma cirurgia como essa. Isso significa submeter às mães de aluguel a várias tentativas, muitas delas sem resultado.
“Estamos sujeitando os animais a danos enquanto o benefício não é essencial”, disse o especialista em 2018 em uma entrevista à revista ScienceWorld, publicação voltada ao público jovem.
Penny Hawkings, especialista da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals, associação que promove e defende o bem-estar animal, concorda com Klirzman.
Se para alguns ter um animalzinho idêntico àquele que se foi ainda é primordial, Klitzman e Hawkings ainda fazem o alerta: a chance maior é de que o clone não tenha a mesma personalidade nem os mesmos atributos físicos do “original”, já que isso pode também depender de fatores externos.
“Há muito mais em um animado do que seu DNA, e animais clonados inevitavelmente terão experiências de vida diferentes, o que resultará em personalidades diferentes”, diz Hawkings.
Abrigo
Para aqueles que ainda buscam a clonagem como saída, Penny dá outra sugestão: procure um abrigo para animais abandonados. “Recomendamos que qualquer pessoa que esteja procurando um novo animal de estimação para se tornar parte da sua família, adote um dos milhares de animais que procuram seu lar para sempre nos centros de resgates”, disse em entrevista à BBC.
Faz coro com Penny, Elisa Allen, diretora da organização não-governamental PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). “Personalidades, peculiaridades e essência dos animais simplesmente não podem ser replicadas”, disse à BBC. “E quando você considera que milhões de cães e gatos maravilhosos e adotáveis estão definhando em abrigos, todos os anos, ou morrendo de maneiras aterrorizantes depois de serem abandonados, você percebe que a clonagem aumenta a crise de superpopulação de animais sem-teto.”
À BBC, o geneticista Andrew Hessel contrapõe esse argumento e diz que a clonagem dos animais de estimação não traz tantas preocupações éticas, se forem feitas com responsabilidade.
“Alguém pode dizer ‘por que clonar animais, quando existem todos esses outros animais para adoção?’”, afirmou à reportagem. “No entanto, você pode usar o mesmo argumento com crianças. Por que ter seu próprio filho quando há todas essas crianças disponíveis para adoção? E os animais também se tornam parte da família.”
FONTE: GLOBO.COM