O impacto do Isolamento Social na vida das mulheres foi alertado logo no início da Pandemia pela ONU Mulheres. Essa preocupação se baseia em uma repetição histórica de Desigualdade de Gênero que contribui para que as mulheres sejam mais prejudicadas do que os homens em crises sociais, acabando invisibilizadas numa sociedade patriarcal.
Algumas mulheres que eu acompanho em Processo Psicoterapêutico confirmam a antevisão de especialistas de que os efeitos da Pandemia na vida das mulheres ultrapassariam a dimensão da doença em si. Os impactos já podem ser vistos nos relatos de esgotamento mental, ansiedade, angustia, medo, incerteza, tristeza – tendo em comum, a queixa de sobrecarga de trabalho.
Mudanças abruptas de rotina naturalmente exigem mais energia de nós, e com a chegada da pandemia, a insegurança e a preocupação passaram a fazer parte da realidade de muitas pessoas no mundo todo, especialmente de mulheres que precisaram se desdobrar para conciliar o trabalho em home office, a assistência em tempo integral aos filhos incluindo as atividades escolares em casa, e ainda, o trabalho doméstico. Essas mudanças que a pandemia impôs também demandaram a necessidade de adequar ambientes provisórios de trabalho e estudo dentro de casa, criando uma fusão entre assuntos e preocupações que antes eram separados.
Especialmente na minha atuação clínica percebo que o acúmulo de funções tem sobrecarregado muitas mulheres e refletido diretamente na saúde mental de tais mulheres. Além da sobrecarga mental, as redes de apoio dessas mulheres ficou fragilizada por conta do isolamento social. Como um agravante no enfrentamento da pandemia, mães que contavam com o auxílio dos avós ou tios para cuidar dos filhos, passaram a não poder contar com essa ajuda.
Apesar de não ser uma tarefa simples, a melhor saída, ainda parece ser a criação de uma rotina organizada que ajude a separar assuntos familiares de assuntos profissionais, lembrando de reservar um espaço na rotina para os cuidados pessoais. Aqui é importante não confundir o cuidado pessoal com uma cobrança para alcançar padrões estéticos ou algo nesse sentido. Na verdade, dedicar tempo para o autocuidado, é tão importante quanto se alimentar bem e ter um sono de qualidade. Dedicar tempo a para atividades que proporcionem bem estar, seja uma pausa para um chá no fim de tarde, um banho com automassagem, assistir a um bom filme, enfim, qualquer atividade que promove o bem estar, é uma grande chave para manter o equilíbrio das emoções no dia a dia.
Nesse período desafiador, é fundamental implementar todos os cuidados possíveis na rotina, como se alimentar de forma saudável, fazer exercícios físicos regularmente, reduzir o uso de telas e ter uma boa qualidade de sono.
Minha sugestão é não pensarmos o isolamento social, ou seja, o isolamento físico, como sinônimo de isolamento afetivo, pois, é justamente nesse momento que estamos passando que precisamos buscar contatos que aliviem o peso da solidão. Para isso, além das redes sociais na internet, a estratégia das “bolhas sociais” podem ajudar. A chamada bolha social é uma alternativa que possibilita uma pequena ampliação de convívio social para além do núcleo familiar, ou seja, quando duas famílias, por exemplo, passam a se visitar mantendo rigorosamente a responsabilidade com os cuidados de higiene, e, continuando o isolamento de outras pessoas que não fazem parte desse grupo/bolha.
Os impactos emocionais do isolamento ainda não podem ser mensurados com precisão, afinal, a pandemia ainda não acabou. Para seguirmos nessa batalha é preciso fortalecer nossos recursos internos para lidar com tamanha avalanche de sentimentos provocados por esse período hostil que tem nos exigido resiliência e empatia. A integridade da saúde emocional é tão importante quando a saúde física, portanto, busque e ofereça apoio às pessoas com as quais você convive, e se necessário procure ajuda de um profissional da saúde mental.
Milena Moreira
CRP 08/25764
Psicóloga Clínica com foco em Autoestima e Relacionamentos para Mulheres.