Uma vida predestinada à Igreja – a história de luta de José Damião o novo Padre da Diocese de União da Vitória

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Um jovem que lutou pela sobrevivência desde os primeiros dias de vida e teve várias provações no decorrer dela para alcançar o sonho de ser tornar Padre.

Vamos conhecer um pouco da história de José Damião dos Santos Souza, que será ordenado Padre na Paróquia São Mateus neste sábado (29) e logo após assumirá a função de Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Vila Prohmann.

A trajetória de Damião começou em 31 de julho de 1987, quando veio ao mundo junto de seu irmão gêmeo, Cosme. Filhos de uma humilde família que estava de passagem pela cidade de Ribeiro do Pombal, interior do Estado da Bahia, mas que residiam em Tobias Barreto, no Sergipe.

Além de humildes, seus pais não tiveram condições de ficar com os dois meninos e os dispuseram à adoção – momento o qual, uma prima sanguínea optou por ficar com Cosme, que aparentemente estava mais saudável, enquanto Damião enfrentará uma desnutrição e outros problemas de saúde em decorrência.

O que estava reservado ao pequeno Tobiense, era uma família de Salvador que viria busca-lo para ser adotado, porém quis o destino que está mesma família, diante a atual situação, não o quisesse – deixando sua prima ao prantos pela preocupação em que destino estaria reservado a ela e aos meninos.

Momento o qual, a também humilde moradora de Tobias Barreto, Gelza Terezinha de Jesus Bittencourt, passou diante a casa e não pestanejou, entrando e se deparando com a situação – guiada provavelmente pelo Espírito Santo. Aquela senhora, que já havia sido mãe outras 7 vezes, teve seu coração tocado e se responsabilizou pelo menino, o levando para casa, o fortalecendo com amor e carinho e contando também, com a ajuda da Pastoral da Criança.

A partir daquele momento, a vida do pequeno Damião mudou, fazendo sentido à luz divina que o colocará nos braços de uma família que o tinha como o irmão caçula de sangue, sem distinções.

Damião junto a seus pais comemorando o aniversário de 2 anos de um de seus sobrinhos.

Damião relata, que sua mãe nunca escondeu seu passado, sempre o falando a verdade sobre sua origem – “cresci sabendo da minha história” – e ainda convivendo em harmonia com os irmãos – “meus irmãos sempre brincaram comigo, dizendo que minha mãe fazia mais por mim do que por eles, por isso nunca os vi como adotivos e sim como irmãos.”

Damião (à direita da imagem) com seus sobrinhos.

Quanto aos genitores, Damião comenta que sua mãe biológica nunca mais fora vista e seu pai, que era deficiente visual, faleceu quando ele tinha 10 anos“essa parte de minha história não é uma ferida, fez e faz parte da minha construção. Quanto ao meu pai, minha mãe Gelza sempre comprava uma camisa para que eu o parabenizasse no dia dos pais”, conta.

Desde pequeno, Damião lembra que sempre brincava de fazer procissões, celebrações religiosas, missas “todas as minhas brincadeiras eram relacionadas à igreja” e enfatiza que Dona Gelza era doceira e sempre lutou para que os filhos tivessem a melhor educação e formação cidadã e profissional, por isso, matriculou todos os filhos em uma escola católica da cidade, em homenagem à Nossa Senhora do Carmo.

Sua formação escolar fortaleceu seu dom e seu desejo em se tornar padre, principalmente quando se tornou coroinha da Paróquia Nossa Senhora Imperatriz dos Campos em sua cidade natal, onde se recorda com muito carinho de ter acompanhado o Pároco local, Monsenhor Souza.

O ingresso no Seminário

Aos 21 anos, já em 2008, Damião ingressou no Seminário da sua região e depois de 6 meses pediu para se retirar do mesmo, a fim de refletir sua escolha em definitivo, pois desde quando se conhecia como pessoa, já tinha em mente seguir o sacerdócio.

Ao longo de 4 anos, mesmo não estando se preparando no seminário, se tornou uma espécie de missionário da Renovação Carismática Católica (RCC), onde trabalhava com seu padrinho em uma livraria durante a semana e ao chegar a sexta-feira, viajava para pregar retiros e levar a palavra do senhor. Mas lembra, que todas as noite quando colocava a cabeça no travesseiro se perguntava “porque eu não prossegui?”

O tempo passou, e ao longo deste período, dia após dia, fortaleceu seu coração e sua mente predestinados à seguir na vida religiosa e em 2012 retornou ao seminário da Diocese de Estância em Sergipe, preparado para caminhar em frente e iniciar o propedêutico.

No final de 2012, mais um escolha na sua vida o direcionou para um novo caminho, quando teve de tomar uma decisão costumeira aos jovens seminaristas de sua diocese – que tinham de escolher continuar sua formação na Diocese de Itapecerica da Serra em São Paulo ou em União da Vitória, no Paraná – e depois retornarem para a ordenação.

“Optei por União da Vitória e após cerca de 1 ano, logo após a mudança de Bispo de minha Diocese de origem, tive de retornar à Sergipe, mas pouco tempo lá fiquei, pois solicitei ser transferido para cá novamente e depois dos trâmites religiosos e burocráticos, fui aceito e pertenço a esta Diocese”, conta Damião.

Damião no último encontro com Dona Gelza.

“Sou apaixonado por essa região e por cada lugar que passei durante minha formação, principalmente nas igrejas e capelas que fiz meu estágio pastoral – Igreja Nossa Senhora de Fátima e nas Capelas de São Joaquim e Sant’ana e Cristo Rei e aqui na Paróquia São Mateus, onde estou a pouco mais de 1 ano.”

A Perda da mãe

Damião conta que sua mãe estava doente e que entrou em contato com ele já no Seminário da Diocese de União da Vitória e diante suas exclamações de que ela precisava melhorar, pois ele só tinha a ela, foi repreendido – “você não tem somente a mim, pois você tem à Nossa Senhora sua verdadeira mãe!” – “foi nesse momento que presenciei mais um sinal da presença da Virgem Maria, pois minha mãe estava me confiando à Nossa Senhora”, relembra Damião, que também busca em suas memórias, um ensinamento de Dom Agenor Girardi, que sempre comentou com os seminaristas que para chegarmos ao sacerdócio, temos de estar junto à Virgem Maria.

Aquele era apenas o início da luta de sua mãe pela sobrevivência e Damião, mesmo longe, estava sempre presente em oração pela pronta recuperação e a realização dos anseios de Deus.

Damião lembra que sua última conversa com sua mãe foi via telefonema, momentos antes dela ser transferida para a UTI, quando relatava que estava preocupada em como seu filho querido estava, pois era fidedigna em mensalmente transferir parte de sua aposentadoria ao filho – “ela me ligou e percebi sua falta de ar e fadiga ao conversar comigo dizendo que já havia pedido à minha irmã separar parte do dinheiro para transferir pra mim. Me despedi dela e essa foi minha última conversa com ela”.

No final da tarde de 10 de novembro de 2016, a Dona Gelza faleceu e Damião ficou sabendo horas depois quando saiu de um evento que acontecia na Universidade e no local não funcionava os aparelhos celulares. Diante a informação, o seminarista relembra que foi direto à capela do Santíssimo Sacramento rezar – “mesmo diante uma dor inexplicável no peito, rezei firmemente e como dizia Jó: Deus me deu, Deus tomou, louvado seja o nome do senhor”.

A partir daquele momento, se iniciou uma corrida para que Damião pudesse se despedir de sua mãe diante as centenas de quilômetros de distância. Uma passagem foi garantida para um voo às 5 horas da manhã e uma carona sairia poucas horas antes – “mesmo diante tanta dor, tudo estava dando certo e estranhei isso”, lembra. Até chegar ao Aeroporto e se deparar com a informação de que as passagens não haviam sido compradas. “Peguei meu terço, sentei no saguão da área de embargue e mandei uma mensagem aos meus irmãos para que enterrassem a mãe, pois não conseguiria estar presente – lembro que chorei e em pensamento afirmei que mesmo diante esta situação eu não deixaria de te servir.”

Momentos depois, o seminarista recebeu uma mensagem o questionando se já estava em Sergipe e contou toda a história para aquela pessoa, que por sua vez, não perdeu tempo e compartilhou aquela conversa com um grupo da RCC e por uma intervenção divina, uma moça cujo nome é Veridiana, que reside em Rio Azul, possuía um irmão que trabalhava no aeroporto.

Uma nova mensagem foi recebida e o pediu para que fosse direto ao check in e pedisse uma passagem, pois tudo estaria resolvido – “Me levantei e fui, e ainda confesso que até hoje não sei como cheguei ao lugar, só sei que foi mais uma vez pela intervenção de Nossa Senhora. Já no local perguntei se havia uma passagem para o Sergipe e a moça disse que sim e o voo partiria em pouco mais de uma hora. Nesse momento uma mão apertou no meu ombro e perguntou à atendente qual era o valor da passagem e pagou”, lembra Damião que afirma que o irmão daquela moça de Rio Azul ainda o acompanhou à área de embarque.

O enterro estava previsto para acontecer, impreterivelmente às 17h daquele dia e o jovem candidato à Padre, chegou às 16h50, à tempo de se despedir de sua mãe. “Cheguei em casa, dei um beijo na testa de minha saudosa mãezinha e fiz uma oração de louvor. Me recordo que minha mãe estava exatamente como a deixei meses atrás, quando a vi pessoalmente pela última vez.”

São Mateus do Sul na sua vida

Quando o jovem seminarista estava em seu último ano da preparação teórica, cursando Teologia, Dom Agenor faleceu e Padre Mario Glabb assumiu a responsabilidade de Administrador Diocesano e pouco tempo depois o comunicou que vir a São Mateus do Sul fazer seu Estágio Pastoral.

“Me apaixonei por essa terra e por sua gente, pessoas com muita fé, povo de Deus, povo santo, que de fato busca Nosso Senhor e que me ajudaram a fortalecer minha trajetória e também, aonde fui empossado Diácono e estou junto à comunidade há mais de dois ano”, enfatiza Damião.

Desde o momento que foi Ordenado Diácono na Paróquia São Mateus, em setembro de 2020, Damião fortaleceu ainda mais seu elo junto à comunidade católica, não somente aquela que frequenta a Paróquia e sim, como toda a São Mateus do Sul. Segundo seu relato, o que mais o marcou enquanto Diácono foi realizar vários batizados – “Me emociono e me motivo a cada batizado realizado destas crianças que são os filhos de Deus, dar o primeiro sacramento ao futuro de nossa Igreja.”

José Damião dos Santos Souza, o menino da Dona Gelza que está ao lado do Pai, intercedendo por ele, será ordenado Padre neste sábado, 29 de maio, às 10h na Paróquia São Mateus.

Ao questionado sobre suas expectativas, ele se diz pronto ao “abandono às mãos de Deus”, momento o qual irá mergulhar e confiar em Deus na imensidão de seu oceano, “perseverando até o fim” e diante duas perspectivas: a salvação das almas através da evangelização e o dar a devida glória de Deus com sua vida.

A partir do dia 12 de junho, o então Padre José Damião será apresentado à Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde atuará como Vigário Paroquial ao lado do Pároco, Padre Iomar Otto. “A comunidade paroquiana pode esperar um Padre pecador, humano, fraco, mas que deseja ser de Jesus todos os dias, estando a disposição de servir à cada irmão, todos os dias”, enfatiza Damião.

“Acredito que minha mãe está muito feliz, porque ela sempre respeitou minhas decisões e nunca me obrigou ser padre, mas sempre afirmou que seja lá o que eu fizer, faça com seriedade, seja honesto consigo mesmo e com todas as pessoas, honre a batina que um dia usará“, completa.

Alexandre Muller
Alexandre Mullerhttps://ourovivo.com.br
Comunicador são-mateuense, especialista em eventos e atividades sociais. Apaixonado por São Mateus do Sul e seus tesouros.
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