Comerciantes e pedreiros são os profissionais que mais morrem de Covid-19 na cidade de SP

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Comerciantes e trabalhadores da construção civil são os profissionais que mais morreram por Covid-19 na cidade de São Paulo, de acordo com um estudo feito pelo Instituto Pólis divulgado nesta terça-feira (1). Para os pesquisadores, os números indicam a necessidade de repensar o que é serviço realmente essencial para a vida em um momento de emergência sanitária mundial.

Para o levantamento foram utilizados dados da Secretaria Municipal de Saúde, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, do período entre março de 2020 e março de 2021.

O período analisado somou 30.796 mortes registradas por Covid-19 na capital paulista, sendo que os trabalhadores e as trabalhadoras empregados representaram a maior quantidade de vítimas (37,8%).

Analisando especificamente a ocupação, os pesquisadores descobriram que os comerciantes (5%), e os pedreiros e engenheiros da construção civil (4,1%), foram aqueles que mais morreram por Covid-19 entre março de 2020 e março de 2021 na cidade de São Paulo.

Ambas as profissões são enquadradas como serviço essencial, conforme o decreto federal de março de 2020, mas, por liderarem os números de vítimas da Covid na cidade, deveriam ser reavaliadas nesta categorização, na opinião dos pesquisadores do Instituto Pólis.

“O setor de alimentação, por exemplo, foi menos impactado do que essas duas classes na capital, com 1% de todas as mortes por Covid no período. Por quê? Porque houve uma política de restrição – ficou fechado e depois aberto com muitos protocolos. É difícil defender que a construção civil seja diferente do setor de alimentação e, este, sim, fundamental para a manutenção da vida. Esses 4% de mortes poderiam ser evitadas com a suspensão temporária das obras junto ao auxílio do governo”, disse Danielle Klintowitz, arquiteta, urbanista e coordenadora do Instituto Pólis.

O Pólis estima que 6,5% de todas as mortes foram de pessoas que trabalhavam em atividades que poderiam ter sido consideradas como não essenciais, como empregadas domésticas, além da construção civil.

Flores em cima de túmulos no cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, em foto de 17 de abril. — Foto: KAREN FONTES/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO
Flores em cima de túmulos no cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, em foto de 17 de abril. — Foto: KAREN FONTES/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO

Questionada sobre argumento de parte dos governantes de que, se não permitirem que as pessoas saiam de casa, um problema econômico seria estabelecido, a pesquisadora esclarece a falha desta suposta relação de causa e consequência.

“É uma falácia relacionar fome e isolamento social. A política de isolamento não deveria ser individual – é politica pública. Não basta o estado fazer campanha para que todos fiquem em casa e jogar a responsabilidade de conter a pandemia sobre o cidadão; o estado tem que garantir que o isolamento seja possível com auxílio econômico. O Brasil tem muito recurso, mas obviamente que não é ilimitado e precisa de prioridades, interrompendo, por exemplo, grandes obras que não ajudam no enfrentamento à pandemia”, explicou Danielle Klintowitz, coordenadora do Instituto Pólis.

Já o setor de saúde, composto por profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento à pandemia, não se destacou no total de mortes e representou 1% das vítimas. Os pesquisadores atribuem este percentual ao fato de que a categoria foi a primeira a ser imunizada, e inclui equipes de limpeza e segurança, cujas mortes não são identificadas segundo o local de trabalho.

Motoristas e diaristas, profissões mais impactadas

O Instituto Pólis pondera que, apesar de os comerciantes e trabalhadores da construção civil terem representado o maior número de mortes, não é possível afirmar que são as profissões mais impactadas, pois há uma questão de proporção de vítimas dentro do universo de profissionais em determinada área de atuação.

O transporte de passageiros, por exemplo, que inclui motoristas de táxi, aplicativos e ônibus, representou 3,2% das mortes totais no período, proporção de óbito duas vezes maior do que a quantidade de pessoas que desempenham essa atividade na cidade (1,63%).

Já os comerciantes, que representaram 5% de todas as mortes, compõem um universo maior de profissionais formando 8,7% dos trabalhadores da capital.

De modo similar, as empregadas domésticas representaram 2,4% das mortes por Covid-19 no município, volume que é metade dos 5% de mortes anotadas no comércio, mas que emprega um contingente muito menor de pessoas.

Óbitos (%) por grandes categorias de ocupação março de 2020 a março de 2021:

  • Profissionais empregados: 37,8
  • Aposentados: 32,2
  • Donas de casa: 15,7
  • Sem informação: 12,8
  • Profissionais desempregados: 1,3
  • Estudantes: 0,2
    Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo/Instituto Pólis

Altos índices entre aposentados e donas de casa

Depois dos profissionais empregados, os aposentados (32,2%) e as donas de casa (15,7%) representaram as maiores vítimas da Covid-19 na capital, com quase metade do número de mortes pela doença.

O impacto da pandemia sobre essas categorias de ocupação chamou atenção dos pesquisadores, já que são compostas por pessoas que estavam em casa.

“Mais de 86% desses grupos tem mais de 60 anos e este é um fator de risco importante, mas a mortalidade elevada mostra que o isolamento vertical é ineficiente. Essas pessoas estão em casa ou precisam sair menos às ruas, e ainda assim foram contaminados e vieram à óbito, provavelmente porque convivem com outras pessoas que precisam sair para trabalhar”, disse Danielle Klintowitz, coordenadora do Instituto Pólis.

FONTE: GLOBO.COM

Alexandre Muller
Alexandre Mullerhttps://ourovivo.com.br
Comunicador são-mateuense, especialista em eventos e atividades sociais. Apaixonado por São Mateus do Sul e seus tesouros.
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