Carlos Costa Júnior é pecuarista há mais de 20 anos em Alto Paraná, no noroeste do Paraná. Em 2021, sentiu que a rentabilidade na criação de gado para corte está sendo a mesma do ano anterior, mesmo com o preço mais alto da arroba do boi.
“O capital do pecuarista aumentou mas o ganho não aumentou muito porque houve aumento no custo da reposição e da ração”, diz ele.
O produtor que faz o ciclo completo, desde a engorda do bezerro até o abate, tem lucrado mais. Isso porque a arroba do boi magro tem custado cerca de R$ 350.
O custo do confinamento, por outro lado, está mais alto por causa dos preços do milho e da soja, usados na alimentação do rebanho.
“A China teve problema de peste suína e está importando muita carne brasileira“, afirma Fábio Peixoto, médico veterinário e técnico responsável pela pecuária de corte e leite do Departamento de Economia Rural (Deral).
Nos últimos três anos, a pecuária de corte voltou a ser uma atividade rentável no Paraná. Atualmente, o estado é o 9º maior produtor de carne do Brasil e o 10º em exportações.
Apesar de não ocupar as primeiras posições no ranking, o estado oferece uma das carnes de maior qualidade.
“Hoje temos as cooperativas que produzem animais com sangue britânico. Uma carne valorizada, melhor em suculência e sabor”, conta Fábio Peixoto.
A maior produção de carne vermelha fica nas regiões norte, noroeste e oeste do Paraná. O motivo é o solo mais arenoso, propício para cultivar pastagem. O clima quente também favorece o desenvolvimento do pasto.
Porém, 2021 não tem sido um ano favorável para a atividade, o que impediu a recuperação mais acelerada da rentabilidade no setor.
“Em janeiro tivemos chuva e depois um período de seca prolongada. Além disso houve diminuição na temperatura do solo. Então, não tem temperatura para um bom crescimento da pastagem”, diz o agrometeorologista Renã Moreira Araújo.
Na última semana de junho, o que os pecuaristas mais temiam, aconteceu: a geada. Ela queima a pastagem, o que prejudica a alimentação do gado.
Na fazendo do agricultor Arnaldo Alves dos Santos a geada queimou cerca de 50% do pasto.
“Tive um prejuízo de R$ 40 mil a R$ 50 mil. Não tem jeito de fazer diferente, tem que trocar”, revela.
A consequência de todos esses desafios para o pecuarista, se reflete na vida do consumidor.
Um levantamento de janeiro a junho de 2021 feito pelo Deral mostra que o preço de 11 cortes bovinos tiveram alta, entre eles:
- Peito bovino com osso: 21,6 %, com preço de R$ 24,29 kg
- Paleta: 16,2%, com preço de R$ 26,72 kg
- Patinho: 15,3%, com preço de R$ 39,30 kg
- Carne moída: 13%, com preço de R$ 36,63 kg
- Filé mignon: 14,8%, com preço de R$ 64,39 kg.
Apesar do preço já estar alto, a falta de animais gordos no mercado, pode provocar um novo reajuste. Na tentativa de continuar comendo a proteína animal, o consumidor tem optado por cortes mais baratos, como acém ou coxão mole.
Outra estratégia que tem sido adotada é levar para casa o frango ou a carne suína.
“Um dia a gente compra carne, no outro dia um ovo, uma abobrinha. Porque o preço está terrível”, conta a aposentada Larice Aparecida de Paulo.
FONTE: G1 PARANÁ.